No País das Últimas Coisas (Paul Auster)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


“Acabei de chegar ao País onde tudo desaparece. Acabei de chegar onde sei que te posso encontrar.
Vejo carrinhos de compras nas ruas mortas. As pessoas, sôfregas, correm. Tu, algures, corres por mim.
Roubaram a minha mala, eu quase deixei que assim fosse. Não preciso dela. Preciso de ti.”

“Tudo desaparece por aqui. Hoje já não há nada aqui, ontem havia. As ruas já não são ruas. As casas, podres, servem de grandes lareiras públicas para atenuar o frio. Tenho a certeza que vieste procurar-me, é por isso que não consigo parar de correr, mesmo com esta chuva.”

“Os meus sapatos não aguentaram tanta chuva. Parei de correr, encontrei este banco de jardim.”

“Estou cansado como a merda, mas não consigo parar de correr. Vejo, lá ao fundo, um banco de jardim, como aqueles que tu gostas. Corro até ele.”

“Sou fraca. Sou como vidro, dizias tu. Desta vez, ignorei o cansaço e assim que me sentei naquele banco, lembranças bravas ergueram-me com a força de Ulisses. Continuo a correr para ti.”


“A ilusão da corrida disse-me que estarias naquele banco, como naquela tarde verde. A ilusão é mentirosa, e eu sou estúpido. Mas não vou parar.”

“Há um comboio, podre, lá ao fundo da rua. Eu não aguento mais. Parto o vidro, entro, e sento-me num daqueles bancos comidos pelo tempo, e por bichos mais fortes do que eu. Adormeço, de fome e frio.”

“Estou todo fodido. As minhas pernas começam a desaparecer também, nesta terra de tudo e nada. Encontro, lá ao fundo da rua, um comboio, podre. Encosto-me nele, e sinto a chuva em mim. Eu não aguento mais, … mas só poderei desaparecer quando te encontrar.”

Simplesmente dedicado.

Ao som de: Angels and Airwaves "Breathe"

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