Existem livros. E existem livros que são obras de arte. Existem livros
que conseguem aterrorizar-nos. Assustam. Permanecem na mente. Na alma. Não
permitem esquecer. Exactamente por essa razão são obras de arte no seu expoente
máximo. Assim é Lolita.
Se o motivo é o recheio de imoralidade que transborda em toda a obra,
não sei. Se é o amor doentio, a perversidade reconhecida de Humbert Humbert,
não sei. Se é a fragilidade e necessidade de querer proteger Lolita, não sei.
Tudo? Possivelmente.
Há uma imensidão de questões que afloram à medida que a leitura,
igualmente, se arrasta juntamente com os dedos nas páginas, com os olhos em
cada palavra, a mente cada vez mais intrincada e um coração cada vez mais
aflito. Uma imensidão de questões, mas uma delas que me persiste e não
conseguirei dela escapar é as pessoas que desistiram deste livro. Ele exige.
Ele revoga. E ele pede. Há, assim, uma exigência, um sentido de moralidade
intrínseco no livro, e em cada pessoa que decidiu abri-lo: de perceber qual o
fim de Lolita.
Poderia continuar a discorrer sobre este livro sem parar, horas a fio,
mas a questão que mais toca, que mais urge é, sem sombra de dúvida, a dor que o
livro me conseguiu provocar. Há de facto uma dor pungente quando um homem se
apaixona por uma criança e após uma catadupa de situações, que correm umas
atrás das outras, partem numa viagem, numa lua-de-mel idealizada por uma mente doente,
acabando numa espécie de policial ou, diria, num duelo à antiga em medições
onde se procura saber quem mais amou, essas mentes doentes. Conspurcadas.
Mentes dignas da morte, num relógio há muito atrasado…
Vladimir Nabokov viu o seu livro ser censurado e negado por inúmeras
editoras. Felizmente viu a luz das folhas, e do cinema. Hoje é um dos grandes
clássicos da literatura. Depois da sua leitura, é muito fácil perceber porquê.
Se recomendo? É preciso dizer?
Ao som de: Ennio
Morricone “Love in the morning”
www.wook.pt: Humbert Humbert, a European intellectual adrift in America, is a middle-aged college professor. Haunted by memories of a lost adolescent love, he falls outrageously (and illegally) in lust with his landlady's twelve-year-old daughter Dolores Haze. Obsessed, he'll do anything, will commit any crime, to possess his Lolita.
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