Valter Hugo
Mãe é para mim um dos melhores escritores da língua portuguesa. Ao ler “O
Apocalipse dos Trabalhadores” não só redobro a minha opinião face à beleza do
seu trabalho, como fico imensamente encantada com a história simples de Maria
da Graça e a sua amiga Quitéria. Simples nos contornos, complexa no desejo que
as persegue: o de alcançar a cobiçada felicidade.
Estamos
perante personagens distintas entre si mas cujo desejo as torna
irremediavelmente iguais: trabalhadores, colados a uma rotina há muito
instalada, cujo único sonho que ainda persiste caracteriza-se por vislumbres
fugidios de uma felicidade cobiçada, entre as horas desses dias cansados.
É assim uma
história do caminho que se sonha de encontro a algo que não se encontra. Há uma
luta diária nessa procura, nessa busca, envolvendo uma bolsa de sentimentos,
escolhidos à sorte, e ao sabor de cada dia, em consonância com o bater de um
coração também cansado.
Há um
ambiente cinzento aqui. Se pudesse escolher a tonalidade deste livro escolheria
o cinzento, sem qualquer dúvida. Há cinzento nos corações de Maria da Graça, da
amiga e de outros que a circundam.
Mas há
igualmente uma esperança, seja cinzenta ou não, há uma esperança no coração de
cada personagem e na busca de felicidade envolvida numa rotina instalada pela
dureza da vida. Seja lá que esperança for, termine ela onde terminar, existe a
esperança de morrer por ela.
Morrer por
amor.
E essa
esperança é azul.
Ao som de: Imagine Dragons "It's Time"
www.wook.pt: Maria da Graça - mulher-a-dias em Bragança esquecida do mundo - tem a ambição, não tão secreta como isso, de morrer de amor; e por isso sonha recorrentemente com a entrada no Paraíso, onde vai à procura do senhor Ferreira, seu antigo patrão, que, apesar de sovina e abusador, lhe falou de Goya, Rilke, Bergman ou Mozart como homens que impressionaram o próprio Deus. Mas às portas do céu acotovelam-se mercadores de souvenirs em brigas constantes e S. Pedro não faz mais do que a enxotar dali a cada visita. Tal como Maria da Graça, todas as personagens deste livro buscam o seu paraíso; e, aflitas com a esperança, ou esperança nenhuma, de um dia serem felizes, acham que a felicidade vale qualquer risco, nem que seja para as lançar alegremente no abismo. o apocalipse dos trabalhadores é um retrato do nosso tempo, feito da precariedade e dessa esperança difícil. Um retrato desenhado através de duas mulheres-a-dias, um reformado e um jovem ucraniano que reflectem sobre os caminhos sinuosos do engenho e da vontade humana num Portugal com cada vez mais imigrantes e sobre como isso parece perturbar a sociedade.
3 comentários:
Não li nenhum livro do autor mas já tinha lido a sinopse deste livro, numa livraria.
A sua opinião cativou-me.
Boas leituras, neste fim-de-semana que augura-se cinzento.
Muito obrigada, Miguel.
A obra de Valter Hugo Mãe é, na minha opinião, soberba.
Espero que venha a confirmá-lo um dia :)
Boas leituras!
Olá Denise,
Acho que todas as personagens do livro tinham muita esperança.
Gostei muito do livro, mas, para mim o melhor livro de VHM é a máquina de fazer espanhóis.
Continuação de boas leituras.
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