Os Interessantes (Meg Wolitzer)

domingo, 28 de setembro de 2014

 

Numa conversa de livros com um amigo, ele perguntou-me: "E esse aí que trazes na mão?". Sem pensar respondi: "É ... interessante!" (risos).
Acho que não podia caracterizar melhor o livro de que hoje vos falo. Um livro bastante interessante, este, de Meg Wolitzer.
Esta é uma história que para o leitor mais sensível o irá reportar, forçosamente, aquele tempo tão maravilhoso que foi, que é, a adolescência. Essa fase incrível do desenvolvimento humano em que adquirimos o pensamento abstrato e com ele surgem, em catadupa, uma série de questões, perguntas sem fim, o porquê da terra ser redonda, o porquê de um amor que explode e dói, o porquê da chuva, o porquê de um som, o porquê dos adeuses, o porquê da saudade, o porquê da dor, o porquê do cansaço, o porquê de um tu e eu, o porquê de emoções urgentes: os porquês condensados numa infância que já se foi. Com pressa.
Com esses porquês, estão os amigos que junto de nós procuram as mesmas respostas e também junto de nós, crescem com os mesmos sonhos. Onde a arte faz todo o sentido, a pedra basilar que dá resposta a tudo o que agonia e aperta.
Neste livro de Meg Wolitzer um grupo de adolescentes vê a sua vida mudar no momento em que, juntos, num campo de férias, sentem a necessidade de mudar o mundo. Com a sua arte. Com o seu talento. Nessas férias cada um deles vai descobrindo em si mesmo aquilo que os diferencia do mundo, dos outros, a um passo cada vez mais perto do reencontro tão procurado, à sua essência, aquilo que os define e lhes permitirá deixar a marca tão desejada nesse mundo sem cor. Sem diferença. Sem... talento.
Mais eis que o tempo passa e algo acontece. Acontece a vida. A vida acontece e tudo parece mudar:
 
"Como, sem o sabermos, poderíamos simplesmente tornar-nos cada vez mais pequenos, com o passar do tempo. Não quero que isso me aconteça." (p.258)
 
Ninguém quer. Muito menos "Os Interessantes". No entanto, o tempo passa e apenas Ethan e Ash mantêm os sonhos acesos e viáveis ao longo da jornada de sonho que foram construindo. Pode a amizade dos seis amigos sobreviver às diferenças que a vida lhes foi moldando?
É neste alicerce que se baseia o livro. Nos sonhos que ganham raízes numa adolescência firme e o tempo, que igualmente seguro, vem como um furacão colocar tudo em causa e obrigar a novas perspetivas. A novos caminhos.
O interessante no livro é que, na verdade, no fundo, nunca desistimos realmente daquilo que nos move. Com muito ou pouco afinco, aquilo que realmente mexe cá dentro, conduz-nos ao longo da vida e surge, precisamente nessa adolescência fresca, nessa juventude, em que os sonhos ainda são permitidos e o caminho ainda está por desbravar, ali, bem à nossa espera.
E é precisamente esta a mensagem num livro que acompanha a jornada destes seis jovens, que crescem, que se tornam adultos, mas que jamais esqueceram aquilo que os definiu: uma adolescência repleta de sonhos, que formou amizades para a vida e amores impossíveis, também para a vida toda.
A vida é esta. Uma amálgama de camadas de sonhos que criámos lá atrás, nessa adolescência, tensa como Aristóteles disse um dia, e teimosa. Teimosa porque quase inconscientemente voltamos sempre aquele lugar, - o lugar do porquê original - , como Jules voltou ao campo de férias 30 anos depois, à procura do porquê que sempre a definiu.
 
No fim, as respostas são sempre as mais simples. As mais reconfortantes e as mais pequenas.
 
Um livro muito bom, e triste, de tão claro que se torna perante a inevitabilidade da vida.
 
Boas leituras!

 
 
Sinopse www.wook.pt: Numa noite de verão de 1974, seis adolescentes planeiam uma amizade para toda a vida. Jules, Cathy, Jonah, Goodman, Ethan e Ash ensaiam a atitude cool que (esperam) os defina como adultos. Fumam erva, bebem vodka, partilham os seus sonhos.
E, juram, serão sempre Os Interessantes.
Ao longo da adolescência, o talento artístico destes seis amigos foi sempre satisfeito e encorajado. Mas o tipo de criatividade que é celebrada aos 15 anos nem sempre é suficiente para impulsionar a vida aos 30 - para não falar dos 50. Nem todos vão conseguir manter viva a chama que os distingue na juventude.
Décadas mais tarde, a amizade mantém-se embora tudo o resto tenha mudado. Jules, que planeava ser atriz, resignou-se a ser terapeuta. Cathy abandonou a dança. Jonah pôs de lado a guitarra para se dedicar à engenharia mecânica. Goodman desapareceu. Apenas Ethan e Ash se mantiveram fiéis aos seus planos de adolescência. Ethan criou uma série de televisão de sucesso e Ash é uma encenadora aclamada. Não são apenas famosos e bem-sucedidos, têm também dinheiro e influência suficientes para concretizar todos os seus sonhos. Mas qual é o futuro de uma amizade tão profundamente desigual? O que acontece quando uns atingem um extraordinário patamar de sucesso e riqueza, e outros são obrigados a conformar-se com a normalidade?





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