Herdeiros do Ódio (V.C. Andrews)

sábado, 27 de dezembro de 2014


«Herdeiros do Ódio», escrito por V.C. Andrews há 35 anos atrás é um daqueles livros poderosos e de uma intensidade incapaz de cair no esquecimento.
Não é um livro. É um senhor livro.
 
Cleo Virginia Andrews era pintora profissional até se dedicar à escrita a tempo inteiro. Os seus romances combinam horror gótico e saga familiar, girando em torno de segredos de família e amor proibido (envolvendo frequentemente temas de incesto consensual, na maioria das vezes entre irmãos). Os livros de V.C. Andrews venderam mais de 105 milhões de exemplares em 22 línguas. Faleceu em 1986.
 
O leitor acompanha a vida de quatro jovens irmãos que, após a morte do pai num trágico acidente de viação, veem a sua vida mudar irremediavelmente. Por vezes, as mudanças podem ser motivo de alegria e expectativa mas não para estes jovens que partem para casa dos, até então, desconhecidos e ricos avós maternos.
Numa mansão de tamanho a perder de vista, riqueza sem fim, os irmãos dão início a uma infância de portas...trancadas. Entre um pequeno quarto e um velho sótão. Na promessa de alguns dias ali confinados até que a mãe reconquiste a confiança do velho pai - entre segredos até então desconhecidos - , os dias vão-se arrastando a meses, e estes, a anos. Anos pesados que moldarão para sempre a personalidade dos irmãos, sobretudo Cathy e Chris, os irmãos mais velhos que, repentinamente, se sentem os pais assumidos dos pequenos irmãos gémeos.
Inicialmente, a esperança. Esperança de que todo um cenário macabro como aquele não passe disso mesmo, um cenário. Que passe rápido, mas não passa. Os dias, esses, passam lentos e a sua conta, aumenta sem previsão de terminar.
Vem a forçosa adaptação. A comida racionada. O sono intranquilo. O medo. As sanções. O contacto com o pecado até então desconhecido. Uma Bíblia contraditória. A hipocrisia palpável na forma de uma avó assustadora, que invoca o nome de Deus com a boca suja. Suja de segredos que viriam a ser descobertos, mais tarde.
É assim, num emaranhado cinzento, macabro e solitário que Cathy e Chris continuam a crescer, a puberdade a emergir e os corpos a reclamar um amor que não têm fora daquelas paredes sinistras. Como ervas daninhas, agarram-se a si mesmos, uma solidão que ampara a outra. Justificada entre eles. Com o peso do pecado. Com o peso do vazio de anos roubados.
Depois, a luta e a fuga. A dor de quem perde. E a dor de quem se ilude. Como Cathy diz, não há ódio mais capaz, mais forte, do que aquele que nasce de um amor traído.
Por fim, a ausência da vingança. Na minha opinião, o fim é uma das melhores partes do livro. Não por acabar, mas pela forma como acaba. Sempre me ensinarem que o silêncio é digno dos inteligentes e estes jovens só querem viver outra vez.
Que forma melhor do que, apenas e só, seguir em frente?
 
Um livro para guardar.
E venham os próximos da série.
 
 
Boas leituras.

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