O emigrante perde sempre

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Texto de J. Rentes de Carvalho 
Retirado do Blogue "Tempo Contado"
(infelizmente já encerrado por falta de disponibilidade do autor)

 
"O emigrante perde sempre. Pode ter sido intensa a esperança com que partiu, grande a sua vontade de vencer, digna de respeito a perseverança com que fez frente às dificuldades, admirável o que alcançou. Podem, aqueles entre quem vive, reconhecer-lhe valia, chamá-lo um dos seus, passar por alto o que lhe encontram de exótico ou diferente. Pode ele sentir-se salvo, realizado, sabe o que aprendeu, julga os outros por si, mas no regresso não vai encontrar entusiasmo nem boas-vindas.
Às vezes pequenas, subtis, nalgumas ocasiões inesperadamente grosseiras, desdenhosas, da menina do balcão ao guarda-republicano, do burocrata ao empregado do café, do taxista à enfermeira, mesmo de amigos e conhecidos não vai faltar quem lhe aponte erros e diferenças. Olhe que não se diz assim! Então não sabe o que é uma francesinha? Disso já cá não há! Tivemos o multibanco antes do estrangeiro!
De nada lhe servirá esforçar-se, insistir, dar prova de que pertence: o ninho rejeita-o. Mas a ninguém  dará conta da sua tristeza e desespero: afivela a máscara do sorriso, finge boa vontade, cegueira, entra no coro, diz que sim, realmente: cá é que é, cá é que temos o solzinho, as praias, a boa comida."
 
Gostei imenso deste texto. Basta ser de quem é.
Nada tenho contra os emigrantes, nem tão pouco é essa a intenção do texto. Pelo contrário.
É antes evidenciada a mágoa pelos que vão e retornam, sabendo que nada, jamais, será como antes.
 
Boas leituras.

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