Ernestina (J. Rentes de Carvalho)

sábado, 9 de janeiro de 2016

 

SPOILER
 
Ainda estou longe de ler todos os livros de J. Rentes de Carvalho. Bem longe. Mas gostei tanto de «Ernestina» que corro o risco de dizer, já, que estou perante o seu melhor livro. Tal como diz, também, o Internacional Herald Tribune. Assim já não sou só eu. E mesmo que fosse.
Este senhor escreve. E como escreve!
«O autor dá-nos o quase esquecido prazer de uma linguagem em que a simplicidade vai de par com a riqueza (...), uma linguagem que decide sugerir e propor, em vez de explicar e impor.»
José Saramago, Prémio Nobel da Literatura
José Saramago também sabia o que dizia. E como sabia. Porque é precisamente isto que acontece ao embrenharmo-nos nas leituras de J. Rentes de Carvalho: começa uma aventura e o leitor, diga-se destemido, entra numa aventura que vai descobrindo, tateando devagar, intuindo e alargando horizontes através de uma empatia que surge imediata. Sem questionar, tal é a verdade que por ali se impõe.
 
Em «Ernestina» o autor conta a jornada da sua vida. Nela conhecemos a família, os meandros do que nela vai acontecendo, as teias que se vão cruzando, e descruzando, até ao derradeiro nascimento do autor.
 
Desde uma mãe ausente, Ernestina, provavelmente fruto de uma igual relação distante com a sua própria mãe, o autor refere-se à progenitora daquela forma magoada, de quem guarda um vazio que só pessoa certa pode preencher.
O pai, primo em primeiro grau da mãe, pressionado por uns pais que não querem vergonhas no seio da família, vê-se preso em corda que não quer. Obviamente, o resultado será uma casa que verga à força dos humores, por norma, tortos na medida da pinga que bebe todas as noites.
 
Não se pense, no entanto, que só tristezas revela «Ernestina».
 
«Ernestina é o romance autobiográfico de Rentes de Carvalho, a estrela portuguesa da Holanda. É a biografia de milhares e milhares de famílias portuguesas. Um livro terno, mas nunca lamechas. Um livro duro, mas que nunca corta a esperança. Um livro simples e obrigatório."
Henrique Raposo, Expresso 
Desde as fragilidades de uma saúde pouco firme, as descobertas da aldeia, os cheiros característicos que jamais deixariam de se infiltrar na pele e na alma, as traquinices típicas de idade pequena, o leitor seguirá atento a vida que se desenrola, tão naturalmente, num crescendo paralelo das páginas que avançam, velozes.
 
Juntando às descobertas e confrontos com a morte, a presença pesada do luto inexplicável, a relação conturbada com o pai, e com a mãe, haverá igualmente lugar para descobrir o prazer da leitura, os prazeres do corpo e, também, a importância das amizades num trajeto infinito de descobertas.
Nesse trajeto reina a força de uma aldeia, e no que nela tudo implica, como pano de fundo certo e derradeiro na arte de moldar valores que perduram para a vida inteira.
 
Uma leitura simplesmente obrigatória.

6 comentários:

Beatriz disse...

Também ainda não li todos, mas este tem um lugar especial no meu coração.

Denise disse...

É não é, Beatriz? :)
Lindo. Livro lindo.
Venham mais livros do autor!

redonda disse...

Também gostei muito deste livro.
um beijinho e uma boa semana
Gábi

Denise disse...

:)

Beijinho Gábi,
Boa semana!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei bastante deste livro do J. Rentes de Carvalho, talvez seja o melhor dele.
Um abraço.

Denise disse...

Olá Francisco!
Gostei imenso também.
Felizmente que ainda tenho muito para conhecer do autor, mas este já guarda um lugar especial.
Boas leituras!

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