Os Óculos de Ouro (Giorgio Bassani)

terça-feira, 26 de dezembro de 2017


Em «Os Óculos de Ouro» de Giorgio Bassani, um dos primeiros livros do autor, estamos perante uma história capaz de se ramificar em si mesma. Se inicialmente a história nos parece centrar-se no conceituado médico Fadigati, com os seus óculos de ouro a ostentar um estatuto elevado e apreciado, mais tarde, questionamos as reais intenções do autor depois de uma onda de especulação sobre o regime fascista, bem como a uma onda de tensão, daí advinda, entre as personagens.
 
Mas voltemos ao médico dos óculos de ouro: a personificação do preconceito, de uma época, de pessoas envoltas nos seus próprios medos.
No meio de uma pequena cidade italiana, Ferrara, tudo se sabe e nada se esconde, irremediavelmente. A chegada do médico agita tudo e todos numa curiosidade que se propaga. Quem será, como viverá e, mais importante, que segredos esconderá?
 
E Fadigati tem, aparentemente, segredos que se escondem. Ele é reservado, dá longas caminhadas no fim do dia e é à noite que, aparentemente, um outro lado emerge.
 
O mais interessante na obra de Bassani é que tudo parece ser, sem ser realmente. Há desconfianças sobre o médico, sobre uma homossexualidade aparente, bem como os afetos que se geram entre si e as pessoas de Ferrara.  Mas nada mais do que isso, uma desconfiança permanente.
 
Mais do que a curiosidade envolta no médico Fadigati, «Os Óculos de Ouro» marcam uma época difícil, com a Itália dominada pelo regime fascista e, sobretudo, pelas questões judaicas e o preconceito associado. Giorgio Bassani, através da história de um médico envolto em segredos, personifica uma época conturbada, bem como as particularidades políticas do país.
 
Tudo isto na sombra sublime de um homem que não vai esquecer e cujos segredos, na verdade, nunca conhecerá.
 
 
Boas leituras,

4 comentários:

Beatriz disse...

Olá, Denise :)

Pelo que escreveste percebo que a temática deste escritor não muda muito.
Li "O Jadim dos Finzi-Contini" e o tema envolve o fascismo e judeus.
O Jardim simbolizava em Ferrara o último reduto de resistência e de segurança.

Beijinho.

Denise disse...

Olá Beatriz!

Esse que falas é o livro mais conhecido, mais aclamado.
Foi o meu primeiro contacto com o autor, pretendo ler mais. Gostei da escrita e da forma como aborda, subtilmente, questões mais penosas.
Recomendo :)

Beijinhos!

Carlos Faria disse...

Vejo que a Denise continua na sua saga de livros e autores que não os que mais enchem páginas de jornais e comentários em redes sociais, mas sim prossegue com um risco calculado fora das ondas que certos grupos editoriais e mesmo certos nichos literários procuram publicitar como bom para vender, o que muitas vezes não é.
NUnca li nada dele, mas a Denise já me fez descobrir obras muitos interessantes e muitas vezes ignoradas

Denise disse...

Olá Carlos,

Ser leitor nem sempre é fácil ou aparentemente simples, pelo menos quando desejamos conhecer o melhor que a literatura nos dá. Como diz, e tão bem, é necessário correr alguns riscos na esperança de nos virmos a surpreender.
2017 foi um ano maravilhoso a nível de boas descobertas literárias.
Em breve farei um resumo :)
Muito obrigada pelas suas simpáticas palavras!

CopyRight © | Theme Designed By Hello Manhattan