O Sentido do Fim (Julian Barnes)

domingo, 8 de janeiro de 2012


Tempo. Memória. Tempo e memória. Os caminhos misturam-se como amantes desesperados, numa cama isolada do Mundo. Isolada. Tão isolada que se perde a sua noção.
Noção de tempo perdido e que a memória reconstrói.
Fechamos os olhos e tentamos recuar para lá da idade, dos dias jovens e solarengos. Encontramos quem fomos, percorremos caminhos já conhecidos, amigos perdidos nas páginas de um diário e repousamos numa questão: somos os mesmos?
Uma questão construída pelo poder do tempo, amenizada pela suavidade da memória, que lhe dá os contornos que desejamos. Desenha, confortavelmente, as imagens de um "Eu" desejado, misturado num tempo que não volta, entre realidade e irrealidade...

"Afinal, não foi bem assim."

A idade aumenta e assim também o REM, trazendo-nos mais tempo de sonho durante a noite. Bom, da noite para o dia vai um pulo. Do real ao irreal, também.

"Quem era aquele, naquela altura? Eu?"

A memória faz o resto. Recorda na parceria de um coração aflito. Um pó mágico que altera a necessidade de não ver o que está, e ver o que nunca antes esteve.
Quase sem darmos por isso.


Ao som de: Franz Ferdinand "Take Me Out"

1 comentário:

chuva disse...

Estou aqui, tal como estive nas páginas dos diários já velhos e quase esquecidos. Estou aqui, mesmo que oculta. Mesmo silenciosa, respondo às tuas dúvidas e conto-te as minhas. Tal como no tempo das cartas. Estranha forma de diálogo, eu sei. Todos os dias páro, e fico segundos a relatar em lista corrida tudo o que tenho para dizer, tudo o que também preciso de te dizer. Mas, depressa tudo desvanece, como de alguma coisa dissesse que não vale a pena. Por que na cabeça as palavras são rápidas e claras, mas nos dedos, às vezes não. Às vezes, demoram e não sabem escolher-se para apresentarem a ideia. Divagar: acontece-me frequentemente, tu sabes, como naquele tempo, e sempre, ámen. E como seria de esperar - de mim, a imprevisibilidade é mesmo uma auto-surpresa, quando, sem querer me supero - sou a mesma. Não preciso de repousar muito tempo nessa questão. É um sofá gasto para mim, e o problema é esse. Antes não fosse a mesma. Antes tivesse deixado a alma do tempo moldar a minha vida. Antes os pós das ruas tivessem entrado nos meus olhos, para que os esfregasse bem e pudesse enxergar.

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