O
amor é muito mais forte quando desaparece. Pode parecer surreal, pouco real,
nada leal, mas é verdade. A necessidade de cuidar, proteger, manter esse amor
que se ergue diariamente perante nós, desaparece pela força dos dias que afirma
uma rotina emparelhada com a certeza de quem ficará para sempre.
Nesse embalar de certezas, vão-se os afectos e as suas
demonstrações. Fica-se pela rotina emparelhada com a certeza de quem ficará
para sempre. Uma gaveta com os segredos roubados pela intimidade, e o pó
acumalado pelos dias partilhados.
Porém, um dia diferente, e alguém decide que a rotina
deixa de se emparelhar com a infinidade de dias seguidos, e vai embora. Aí tudo
muda.
O amor arrumado e passado a ferro ganha uma nova vida,
ausente, e por isso, muito mais vivo. Revelador. Novo. Detentor de vontades
ausentes. Desejoso de mostrar o que jamais mostrara. Corajoso. Lutador de
causas perdidas. Herói sem espada. Mas herói. Transbordante de um amor antigo,
agora recriado. Porque é tarde demais.
Ganha mais sabor, porque não se tem. E por isso, se quer.
Mas já não tem. Nem nunca terá.
E é assim o amor. Uma complexa equação de «não ter».
www.wook.pt: Escrito num período em que o próprio casamento do autor conhecia dificuldades, "O Mundo dos Ricos" abala o mito do verdadeiro amor, concentrando-se antes na destrutiva luta pela posição dominante e pelas frívolas questões do dinheiro e da classe social.