A Mulher Louca (Juan José Millás)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"(...) no sentido de que a linguagem não está na nossa mão, mas nós na dela. E usa-nos para apertar ou afrouxar os parafusos da realidade, para cortar os fios do mundo, para serrar as tubagens do universo. Mas como é possível que não notes isso?" (p.149)
 
Fechem os olhos. E agora olhem para dentro. Há palavras que voam sozinhas. Para ali. Para acolá. Mais. E mais. E umas outras, desconhecidas, sem sentido. Mas que afinal, têm mais sentido porque não dizem nada de nada. Nesse vazio, evocam segredos há muito escondidos, novos significados feitos de ausência. Ausência de um som certo. Mas que nem por isso deixará de significar.
Com a certeza de nada possuirmos quando abrimos a boca, este livro louco e atrevido permite-nos flutuar por esse poderoso valor da palavra.
O que se diz? O que se diz realmente? E o que não se diz? Diz-se realmente? Vou dizer-te o quanto te amo, não te dizendo. O meu silêncio vai falar através dele. Trago-te o silêncio. Que significa silêncio. Ausência de qualquer ruído. O substantivo certo? Será? E aquela palavra que acabou de entrar pela janela?
Que faço com ela?
A Júlia mandava despi-la e deitar-se na folha...
 
Um livro absolutamente incrível. Se já antes havia dito que Millás é incapaz de deixar um leitor indiferente, depois de «A Mulher Louca», reafirmo com ainda mais certeza.
 
Um livro louco de genialidade. De uma mensagem subentendida pelo paradoxo que vai entre o peso e a leveza das palavras.
 

 
Muito bom!
 
 
www.wook.pt: Julia trabalha numa peixaria e à noite estuda gramática, porque está apaixonada pelo chefe, que na verdade é filólogo.
Nos tempos livres, a jovem ajuda a cuidar de uma doente terminal, Emérita, e encontra-se com Millás, que está a fazer uma reportagem sobre a eutanásia. Durante as visitas, o escritor sente-se atraído pela ideia de romancear a vida de Julia, embora para o fazer enfrente o seu bloqueio criativo com a ajuda da psicoterapeuta. A realidade transtorna os planos do escritor, quando Emérita revela um segredo que guardou zelosamente toda a vida. O que começara como uma crónica para o jornal converte-se então numa espécie de novela, onde se verá apanhado como personagem.

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