Correndo o risco de me repetir

domingo, 31 de janeiro de 2016


A melhor série de todas.

Palavras do Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016



Um livro lindo sobre palavras. Muito mais do que palavras.
São a ausência entre elas a fazer o sentido do todo.
A fazer sentido daquilo que não se diz, quando se está a dizer tudo.

Fernando Pessoa. Basta dizer.



As ilustrações lindíssimas fazem a junção perfeita a alguns trechos de um livro memorável e eterno.
Como as palavras que não se dizem.Porque são as mais sentidas. Tenho a certeza.
Como a vida que nos ultrapassa e a vive, por nós.
Malandra.
Ou preguiçosos.
Nós.


Não tenho muitas mais palavras porque as podem encontrar, as mais bonitas e importantes, neste pequeno livro.
Abram-no.

E revisitem-no.
Muitas e muitas vezes.
Como a um passado que não se pode retornar, mas a que voltamos sempre sem querer.

Façam deste livro uma espécie de teimosia de afetos.
Um desassossego para a alma que não se contenta.

Abram-no.
Façam isso.



O Renascido (Michael Punke)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016



A compra deste livro foi feita com base no meu interesse por tudo o que sejam histórias, reais, de sobrevivência em contextos verdadeiramente inóspitos. Recordo-me do filme com o Tom Hanks, o «Náufrago» e, volvidos vários anos, nunca mais esqueci a solidão daquele contexto, a beleza do filme e a amizade singular com a bola Wilson.
Penso que a minha estima por estas histórias reside, tão simplesmente, no facto de ser pessoa e, por isso, ter esperança. Esperança na pessoa, na sobrevivência e nessa capacidade de vencer as maiores adversidades que por vezes nos são impostas. Que se façam prevalecer, pois então, os ensinamentos de Darwin, e que com razão se perpetue no tempo aquele que saiba adaptar-se, orientar-se e, por conseguinte, evoluir.
 
Em «O Renascido» temos tudo isto e muito mais. Somando o fantástico requisito de se tratar de uma história verídica, sobre Hugh Glass, atacado de forma bárbara por um urso cinzento, este é um relato mais ou menos ficcionado e amplamente conseguido por Michael Punke sobre até onde o ser humano é capaz de ir, vencendo incapacidades que se julgariam, ao primeiro olhar, inultrapassáveis, movidos pela raiva e sede de vingança.
 
Ao longo dessa trajetória, acompanhamos as sérias limitações físicas de Glass que após o ataque, é abandonado pelos dois colegas, que desistem de esperar pela sua morte iminente, roubando-lhe todos os seus pertences. Começa assim a arquitetura de uma vingança projetada por Glass, que levará tempo até, enfim, se tornar possível, independentemente do seu desfecho ir, ou não, de encontro ao idealizado.
 
Serão várias as peripécias ao longo desta epopeia, digamos assim. Acredito, no entanto, que o mais bonito e que merece real destaque são as descrições pormenorizadas que o autor vai tecendo sobre os esforços de Glass para sobreviver. Uma caça. Uma fogueira. Um simples espaço para se resguardar.
 
 
 
Gostei muito e vale a pena todo o tempo que decidir - se decidir - dedicar-lhe.
Agora, dedicar-me-ei a ver o filme chegado recentemente ao cinema mas, pelo que já pude espreitar, conta com algumas adaptações significativas...
Veremos!
 
Boas leituras.
 
 

Lonely

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pinterest

O Comboio dos Orfãos (Christina Baker Kline)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


«O Comboio dos Órfãos» foi uma recomendação da minha mãe.
Um livro com um grande contexto histórico que retrata uma época pouco abordada sobre crianças órfãs, abandonadas e sem-abrigo, que eram transportadas em comboios, no passado dos Estados Unidos da América, entre os anos de 1854 e 1929.
 
É com base neste ponto da História, que a autora se debruça num enredo de enorme sensibilidade cujos dois espaços temporais do mesmo - 1929 e 2011 -  nos vão revelar duas personagens cujas histórias não só se cruzam, como se repetem no tempo.
 
Vivian foi a menina, agora mulher que após ter pertencido a esse enorme grupo de crianças sós e abandonadas, no comboio dos órfãos, vai relatando aquela que foi uma verdadeira prova de fogo para se manter viva num mar de pobreza, fome e precaridade que nenhuma criança de 9 anos deveria conhecer. Tão pouco, que a infância se perca como quem varre poeira do chão, tais são as provações que terá de passar até, enfim, chegar a estabilidade.
Como um gato bravo, Vivian nunca acreditará, ao longo da sua vida, na segurança plena, surgindo sempre o medo do abandono, como marca certeira de uma vida que fora pautada pelo desapontamento.
 
Também Molly, a jovem que o leitor terá oportunidade de conhecer, relata a sua tenra jornada que, ao longo dos seus 17 anos tem, à semelhança de Vivian, traços marcados de insegurança e abandono.
 
No cruzamento inesperado destas duas personagens, uma adolescente e uma idosa, nascerá uma amizade improvável através das partilhas de Vivian, cuja vida marcada por constantes desafios e piadas de um Deus omisso, as aproxima e mostra que, independentemente do trilho que escolhemos, há sempre a benesse das segundas oportunidades.
 
 
 
Recomendo.
Boas leituras!

A Cidade e as Serras (Eça de Queirós)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016


 Spoilers
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Rui Zink, no prefácio ao livro, refere como tema central a felicidade. E eu não poderia concordar mais.
Acredito que a leitura dos «Maias» na minha adolescência tenha, efetivamente, afastado a minha curiosidade pelo autor pois, recordo, vivamente, as tardes de tédio que apanhei em torno das descrições acesas e detalhadas do autor.
No entanto, a idade traz coisas que não podemos prever.
Hoje, a leitura deste senhor é um privilégio e tanto.
Este livro é muito mais do que a separação da cidade e da serra, valorizando esta última de assolapada paixão. O tema é, assim, a felicidade plena que se procura avidamente, sem encontrar. Eu diria, portanto, que este belo livro de Eça de Queirós é o retrato perfeito da busca de um homem indeciso, por si mesmo, cujos ventos da mudança o levarão a encontrar essa almejada felicidade no lugar mais inesperado possível. A serra. Os campos. O lado, outrora, sombrio, sem qualquer esperança de civilização.
 
É que para Jacinto, a Civilização tem nome de cidade, sendo lá o motor de todas as coisas. O coração de todas as coisas. A razão de ser de todas as coisas. E mais alguma que, eventualmente, venha a surgir. Na cidade, a cada dia, novas coisas nascem e numa atenção minuciosa, nada ele pode perder em prol de um desenvolvimento que se pretende eficaz. Certeiro.
 
Não posso deixar de referir o quanto esta personagem, na fase de encantamento pela cidade, me recordou Hans Castorp de Thomas Mann. A boa disposição contagiante. Há um fascínio que não cansa, de tão maravilhado que está, sempre, com as inovações da cidade, jamais passíveis de poderem ser comparadas com o campo.

É Zé Fernandes, amigo do peito, quem narra esta história em volta de um Jacinto que, de tão encantando pelas maravilhas da Civilização, depressa cai num torpor em que nada, por mais surpreendente que possa parecer, lhe desperta o mínimo interesse. A cidade era, afinal, a mais pura das ilusões.

Quis o destino que após uma inundação em Tormes, levando à necessária transladação do corpo do seu avô, Jacinto rumasse até à serra, na companhia do amigo do peito Zé Fernandes, observador atento e personagem que nos brinda com os mais peculiares traços de caráter daquele jovem.

Pois bem, caros leitores.
Esta é a grande viragem no livro de Eça.

Se Jacinto já estava fatigado dos prazeres infecundos da cidade, pouco ele se encantou com as dificuldades que viria a conhecer ao longo daquela que foi uma verdadeira jornada até encontrar, finalmente, porto seguro nas serras de ar puro, e que lhe viriam a proporcionar aprendizagens contínuas sobres os segredos das suas terras.

Se no início o coração difícil de Jacinto não estremeceu perante as maravilhas da serra, continuando a ceder a pequenos caprichos, no fim, Zé Fernandes pôde contemplar um homem cuja "alma se simplificava" encontrando o equilíbrio que lhe permitiria vir a ser "indecentemente feliz."
 
 
Um livro belíssimo sobre a importância da felicidade e em como, tantas vezes, se encontra, tão somente, debaixo de uma pedra.
Adorei!
 
 
 
 
Está concluída a primeira etapa deste meu desafio do Ler(-te) em Português.
Venham mais!
 

Só para quem entende

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016


O Paraíso Segundo Lars D. (João Tordo)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016


«O Paraíso Segundo Lars D.» é uma espécie de continuação daquela que será uma trilogia de João Tordo. Digo espécie porque estamos a paredes-meias com o escritor ficcional do primeiro livro, numa intimidade inquietante.
 
Do nada, encontramos vestígios do sublime «O Luto de Elias Gro», não através do seu criador que, porventura, será o homem mais solitário do mundo, mas através da sua carinhosa e inigualável mulher.
 
É uma história de intocável tristeza, de tamanha dor que por ali se vive, não queiramos tocar-lhe. Há um risco de contágio na dor de Lars que, como diz a esposa, ressente-se nele por isso, e só por isso, no contágio da sua dor, tristeza e pequenas grandes doses de insanidade.
 
Estamos, assim, perante um livro cujo fio condutor é, mais do que uma tristeza inegável e profunda, a procura infindável de si mesmo que atormenta, mói, cansa e mata lentamente. Qual cancro de fim redentor. De um fim que seja, enfim. Um fim que chega, de vez, para calar questões, decisões ou, tão somente, as dores de um corpo que já está velho, sem nunca ter tido um espelho fiscal.
 
"(...) como é possível que a ausência de alguém seja tão mais pesada do que a sua presença, e como se vive assim sem enlouquecer de vez?" p.71
 
Tanto mais, se essa ausência for a nossa. Sempre. Como uma morte que se esconde atrás das costas, de dedo indicador em riste contra a pele, num lembrete eficaz de que vai chegar. Hoje, amanhã, quiçá, depois de amanhã...

O livro de João Tordo é um apelo à necessidade de virar os olhos para dentro, de procurar nas entranhas algo que mova, ainda. Encontrar um Deus para todas as curas da alma.
Que justifique a angústia dos dias que cansam. Dos dias cada vez mais velhos. Que têm pó.
 
Do lado de cá, ficam os espectadores que tão bem nos conhecem as mazelas, ficando, dia após dia. Para contar a história do que foi.
 
"A pergunta que te faria, se ainda fosse a tempo, era esta: conseguiste? Tiveste o que querias? Fizeste a viagem da Solidão à Solidão, e no final, encontraste Deus? Nos teus últimos momentos, esgravatado por dentro, irremediavelmente só, na mais cruel agonia, sentiste essa união com o divino? E essa união curou a tua ferida, o rasgão que é a origem de toda a tua angústia?" p.205


Muito bom.
Boas leituras.

Ernestina (J. Rentes de Carvalho)

sábado, 9 de janeiro de 2016

 

SPOILER
 
Ainda estou longe de ler todos os livros de J. Rentes de Carvalho. Bem longe. Mas gostei tanto de «Ernestina» que corro o risco de dizer, já, que estou perante o seu melhor livro. Tal como diz, também, o Internacional Herald Tribune. Assim já não sou só eu. E mesmo que fosse.
Este senhor escreve. E como escreve!
«O autor dá-nos o quase esquecido prazer de uma linguagem em que a simplicidade vai de par com a riqueza (...), uma linguagem que decide sugerir e propor, em vez de explicar e impor.»
José Saramago, Prémio Nobel da Literatura
José Saramago também sabia o que dizia. E como sabia. Porque é precisamente isto que acontece ao embrenharmo-nos nas leituras de J. Rentes de Carvalho: começa uma aventura e o leitor, diga-se destemido, entra numa aventura que vai descobrindo, tateando devagar, intuindo e alargando horizontes através de uma empatia que surge imediata. Sem questionar, tal é a verdade que por ali se impõe.
 
Em «Ernestina» o autor conta a jornada da sua vida. Nela conhecemos a família, os meandros do que nela vai acontecendo, as teias que se vão cruzando, e descruzando, até ao derradeiro nascimento do autor.
 
Desde uma mãe ausente, Ernestina, provavelmente fruto de uma igual relação distante com a sua própria mãe, o autor refere-se à progenitora daquela forma magoada, de quem guarda um vazio que só pessoa certa pode preencher.
O pai, primo em primeiro grau da mãe, pressionado por uns pais que não querem vergonhas no seio da família, vê-se preso em corda que não quer. Obviamente, o resultado será uma casa que verga à força dos humores, por norma, tortos na medida da pinga que bebe todas as noites.
 
Não se pense, no entanto, que só tristezas revela «Ernestina».
 
«Ernestina é o romance autobiográfico de Rentes de Carvalho, a estrela portuguesa da Holanda. É a biografia de milhares e milhares de famílias portuguesas. Um livro terno, mas nunca lamechas. Um livro duro, mas que nunca corta a esperança. Um livro simples e obrigatório."
Henrique Raposo, Expresso 
Desde as fragilidades de uma saúde pouco firme, as descobertas da aldeia, os cheiros característicos que jamais deixariam de se infiltrar na pele e na alma, as traquinices típicas de idade pequena, o leitor seguirá atento a vida que se desenrola, tão naturalmente, num crescendo paralelo das páginas que avançam, velozes.
 
Juntando às descobertas e confrontos com a morte, a presença pesada do luto inexplicável, a relação conturbada com o pai, e com a mãe, haverá igualmente lugar para descobrir o prazer da leitura, os prazeres do corpo e, também, a importância das amizades num trajeto infinito de descobertas.
Nesse trajeto reina a força de uma aldeia, e no que nela tudo implica, como pano de fundo certo e derradeiro na arte de moldar valores que perduram para a vida inteira.
 
Uma leitura simplesmente obrigatória.

Ler(-te) em Português de Janeiro

Poderão ler mais informações sobre este desafio pessoal, aqui
 
 
Está escolhido o primeiro Ler(-te) em Português do desafio deste ano.
Vamos lá então ler o Senhor José Maria de Eça de Queirós!

A ler "Ernestina"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

"Nos pinhais o cheiro era outro. No vale, outro ainda, porque no fundo onde murmurava o ribeiro crescia a hortelã, a macela, o manjericão, e os seus olores, misturados com o sem-número de perfumes dos pomares e do mato, entonteciam as abelhas que revoavam à nossa volta. Entonteciam-me a mim. Eram a marca do meu paraíso de menino, lugar de harmonia e paz, onde os perigos mais temerosos eram as trovoadas secas e os incêndios. Para o resto havia salvação, com muito pedir a Deus até a morte se podia adiar." p.226/227 

J. Rentes de Carvalho
 

Ensaio sobre a cegueira (masculina)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

José, Será Mago? (Mário J. Alves)

domingo, 3 de janeiro de 2016

 
Comprei este pequeno livro na Feira do Livro do Porto de 2015.
Um pequeno grande livro de Mário João Alves que relata a história do Ruivo e do Carapinha, dois pequenos, que juntos, irão descobrir a importância e o valor das palavras.
 
 
Através das sábias palavras de José, o Mago, estes pequenos vão ensinando, um ao outro, a verdadeira importância do som real que as palavras, quando sentidas, nos fazem chegar. No momento certo, na hora certa, bem como a capacidade que podem ter para abalar mundos e desfazer muros...
 
 
Com ilustrações bonitas, o leitor acaba embevecido pelo toque infantil da escrita e pelas memórias invocadas a um escritor que não precisa de apresentações.
E depois, bem, depois ficam as palavras.
 
"(...) Porque as palavras que realmente interessam só revelam a sua magia em ouvidos bem abertos."
 
 
Boas leituras!

Gaveta de Filmes

sábado, 2 de janeiro de 2016

 
Um filme muito bom sobre as possibilidades do amor.
O quanto é bom pensarmos nas possibilidades do amor e não o vermos apenas como uma caixa fechada, iminente, de um tudo ou nada.
Qual quê. O amor aparece quando tem de aparecer.
Estejas tu onde estiveres.
Estejas tu com quem estiveres.
 
Muito, muito bom.
 
 
Fica o trailer:
 


The first week

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pinterest
 
 
Também os graúdos precisam de brincar.
Mais que não seja, brincar aos crescidos.
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