O Livro dos Prazeres Inúteis (Tom Hodgkinson & Dan Kieran)

quinta-feira, 2 de junho de 2016


Coincidência, ou não, este livro veio parar às minhas mãos no Dia da Criança.
A infância, num sentido figurado, assume-se como os primeiros anos de vida, o princípio de tudo, de todas as coisas, a iniciação às primeiras experiências de vida. E diz a Filosofia, pomposa como só ela sabe ser, que viver é experienciar.
O livro de Tom Hodgkinson e Dan Kieran é um belíssimo exercício para os adultos que se negam aos pequenos prazeres da vida e que são, na verdade, a estrutura que define tudo aquilo que nos deveria mover. Caminhamos apressados na pressa de chegar a algum lado, na certeza de que o futuro tem, forçosamente, as respostas certas aos anseios de um presente muito preenchido, mas como diz o autor, tão acertadamente: "(...) acreditar no futuro, é completamente irracional. O futuro ainda não aconteceu, portanto não passa de uma mera abstracção." (p.10).
Assim, eu definiria este pequeno livro como um belo exercício de promoção à deambulação e contemplação das coisas simples. Por coisas simples, e aparentemente inúteis, os autores falam em tomar banho, apanhar folhas das árvores, deambular pela cidade, com calma, estender a roupa e muitas outras pequenas coisas que dão a compostura certa à vida.
Sente que já não tem idade para se sentar num banco de jardim, a ler ou tão somente a conversar? Porque não? É adulto de mais? Atreva-se.
Atiçar o lume é uma das minhas preferidas. Mas nenhuma outra ganha à capacidade de sonhar: "(...) Sonhar serve de ligação ao nosso inconsciente, a nós próprios. É algo que deve ser estimado. E, como Debbie Harry sabiamente nos lembra, é de graça. Não é extraordinário que uma actividade que ocupa tanto tempo nas nossas vidas seja tantas vezes relegada para as esferas das coisas não importantes? Os sonhos são a nossa base, estão no centro daquilo que somos." (p.75)
Sonhe mais. Vá a bibliotecas. Vá a lojas só para ver. Cante. Leia poesia. Conte histórias aos mais pequenos e invente as mais mirabolantes. Não se limite apenas ao que os livros decidem contar. Sinta o vento. Observe as sombras. Valorize os seus chinelos. Vá pescar. Usufrua das boas companhias. Construa castelos de cartas. Ande de bicicleta. Dance. Dobre papel. Experiencie. Deambule. Preste atenção.

Para os descrentes que farão aquele "hmmpf, tenho de ir trabalhar", também eu tenho de ir. Todos nós temos de ir. A ideia dos autores não passa por um cultura global do ócio. A ideia passa, antes, pela cultura da felicidade e essa sim, deve ser cultivada diariamente e integrada na nossa vida como a prática da respiração.

E já agora, sorria mais.
Um sorriso é aliado garantido de um bem-estar que se propaga.


Ao som de: Foo Fighters "All My Life"

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