Filhos e Amantes (DH Lawrence)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Considerado uma das obras-primas da literatura do século XX, «Filhos e Amantes» de DH Lawrence foi, inicialmente, recebido numa onda de polémica. Algumas passagens, inclusivamente, foram cortadas pelo editor. Na altura, o autor acabou por aceitar, referindo: "(...) quero lá saber se [o editor] vai cortar uma centena de páginas duvidosas de «Filhos e Amantes». O livro tem de se vender, preciso do dinheiro para viver."
 
Tudo começa com a união de um casal.
Quando Mr Morel decide casar-se, fá-lo com paixão. E a mulher também. Uma história simples de amor que pareceu surgir do nada mas que na mesma proporção, parece extinguir-se na força dos dias. Pesados. Rotineiros. Disformes e desorganizados, em que o nascimento do primeiro filho ditará, para sempre, a separação iminente com laivos de uma raiva nunca exteriorizada.
 
«Filhos e Amantes» é a história de um amor materno doentio. Uma mãe que deixou de viver para si para se entregar, sem arnês, ao amor recebido e quase reclamado, dos seus filhos. É Paul quem melhor a conhece, a estima e preserva. Dos quatro filhos nascidos, será a simbiose desta mãe e do filho mais novo, a força constante de uma história por vezes delicada, por vezes angustiante.
 
Que a família nos pesa na alma, não é novo. Que a família nos incendeia os prenúncios daquilo que viremos a ser um dia, também não é novo. Mas mesmo as coisas que não nos são novas, não deixam de nos fazer refletir.
 
A forma como DH Lawrence expõe os demónios de um jovem que anseia voar por si interdito pela sombra de uma mãe que nada parece pedir, angustia e reclama reflexões cuidadas sobre o papel da família, dos elos aparentemente inocentes.
 
Um cliché, talvez. Porém, uma necessidade reconhecida.
Paul viu-se impedido de amar Miriam, jovem doce e inocente, ainda assim com garras capazes de o transformar naquilo que jamais ambicionara. Viu-se igualmente impedido de uma entrega verdadeira a Clara, mulher com o coração desarrumado, ainda assim, capaz de o amar.
 
Viu-se impedido de si mesmo.
De início ao fim, Paul é a personificação do medo de ir, para ficar, sem ficar. A amálgama de complexos imprimidos ao longo do tempo para nos mostrar, quase sem dó nem piedade, a fragilidade com que somos feitos. Uns bebés grandes a desejar, ainda assim, o quente de um colo expirado há muito.
 
Angústia maior, em prol de um amor que oprime, dificilmente se encontra.
 
 
Gostei muito. E recomendo.
Boas leituras,

2 comentários:

Beatriz disse...

Denise! :)
Também gostei muito.

(Pobre Lawrence sempre ligado a polémicas.)

Lindo Mirtilo.

Beijinho.

Denise disse...

Como gostei deste livro!
Sim, Lawrence sofreu bastante a esse nível mas, em contrapartida, todos corriam em busca dos livros dele. Nada como uma polémica...

Beijinho

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