O amor é para os parvos (Manuel Jorge Marmelo)

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Falar de amor tem muito que se lhe diga.
Encontramos, quase como no autismo, um espectro de quem dele padece: uns afoitos que o encaram sem medos, a dar um pouco para os parvos, e outros, menos afoitos, com o  coração aflito pelo que virá depois. Aquele medo crescente e ansioso de quem deseja, à força toda, resolver uma espécie de equação matemática sem fim à vista.
 
O livro «O amor é para os parvos», de Manuel Jorge Marmelo, é um bonito desabafo de um homem, a quem nunca lhe conheceremos o nome, para com a sombra de uma mulher e o passado que ambos viveram. O passado de um amor distorcido pela força do tempo, bem como as lutas internas de a quem lhe quer (tanto) sobreviver.
 
Falar de amor tem muito que se lhe diga, repito sem qualquer desfaçatez.
A questão impera: se eu não gostar de mim, quem gostará?
Será pois um clichê, tantas vezes repetido, e que por isso, talvez lhe tenha perdido o tom desejado da verdade.
 
A história de Manuel Jorge Marmelo enfatiza esses demónios que carregamos para explicar, subtilmente, o quanto o amor (ou a sua falta) nos distorce a visão das coisas, do que merecemos e do que estamos dispostos a dar. A questão incide, na verdade, em: pode amar, quem nunca foi amado?
 
Ao longo do desabafo num quarto, que adivinhamos escuro e vazio, este homem vai tecendo as linhas que formaram, desde sempre, a sua vida pequena, preenchida por um passado que teima esquecer mas que, na mesma medida, o define e afronta.
 
A impossibilidade de mostrar esse amor bonito que sente, vagueia por toda a obra, afligindo e invocando a compreensão quase apiedada do leitor.
É uma belíssima homenagem ao amor, por muito estranho que lhe pareça. Sempre me disseram que as verdadeiras histórias de amor são aquelas que não começam ou que acabam antes do tempo. Ficam esses resquícios de amor que se perdem pelos cantos da casa, escondidos no fundo das gavetas, no fundo de cada um, lá bem amarrotado.
 
É nesses resquícios que encontramos um homem abandonado à sua sorte, à invocação de um amor que foi, que não torna, afrontando e exigindo um retorno ao passado: o lugar faminto das dores que nos definem, que nos toldam os passos capazes de reverter um futuro morto à nascença.
 
Recomendo sem qualquer reserva.
Manuel Jorge Marmelo continua a teimar em não me desiludir.
O meu bem haja.
 
 
Boas leituras. Seja feliz,

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